Um dedo de prosa
Germana Telles
Humanidade Catarina | 00:10 |
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Quando cheguei aqui, a primeira vez, eu vi que algo muito forte esperava por mim. Era caso de amor. Vi um lugar diferente de tudo que já havia visto na vida. Gente que falava com um charme, uma cadência, um dobrado... Gente e terra que me encantaram demais. Eu estava em Santa Catarina. Terra com nome de santa. Terra abençoada que me fez render todos as honras e me apaixonou de modo arrebatador.
Vinda de um lugar mágico, iluminado, quente, me via enfeitiçada por algo novo, límpido. Por um lugar com cara de novo mundo. Era uma coisa estranha me tomando as entranhas, me pedindo para ficar. Não sei mesmo o que mais me prendeu aqui. Não sei. Eu busco e não consigo atinar mesmo ao que me prendeu.
Lembro de uma procissão de São José, lá na terra onde nasci e de onde vim. Lembro de pedir pela saúde de minha mãe, abraçada a foto dela, e de rezar para voltar a Santa Catarina. Porque eu queria mais daquela sensação de porto seguro, de fertilidade, de hospitalidade, de retidão, que vem do ventre dos catarinas.
Só sabe o que é Santa Catarina quem está aqui, quem vive, quem partilha, quem descobre essa terra de imigrantes fortes, desbravadores, determinados, firmes, teimosos, corretos, honestos.
Meu grande orgulho é ter sido aceita, recebida com festa, com amor, com afeto de família. Eu amo esse solo, esses amigos feitos, esses dias vividos e conquistados. Catarinense tem um brio tão desconcertante que modifica o modo de qualquer pessoa ver o mundo. O ritmo é oposto a todos os que já havia experimentado. E eu quis esse baile. Eu quero viver com essa gente que me desperta admiração a cada dia.
Nas últimas semanas eu fui, nós fomos pegos de surpresa. A terra da beleza e do trabalho, dos homens fortes, das mulheres quase de Atenas, se viu em meio a um mar grosso de barro vermelho. A chuva derrubou os morros e as fortalezas do peito dessas pessoas vistas por mim como invencíveis, inquebrantáveis. Meu peito foi ficando apertado, miúdo, triste.
O pior era sentir que as estradas bloqueavam o acesso, as possibilidades. Foi terrível ver aquelas pessoas gigantes com os olhos marejados, tomados de dor e de medo. Foi indescritível temer por gente que eu nem conhecia, mas que já é tão minha.
Tudo aqui inspira cuidado. No entanto, mais uma vez, Santa Catarina me ensina que esse solo é mesmo diferente de todos os caminhos por onde passei. Em meio ao tormento, o catarinense esboça sorrisos. No meio do vendaval, dos saques, do desespero, famílias antes estruturadas para receber cem gerações à frente, vencem rugas, idade, cansaço, desesperança e fazem todo o caminho feito pelos ancestrais. É hora de refazer, então, mãos à obra, sem tempo para lamentações.
Esse é o segredo Catarina: a força, a vontade, o destemor, a valentia, a dignidade, a hombridade, a valentia. Eu quero estar aqui. Por quantas tempestades o planeta resolver mandar, se ainda tiver a impiedade de mandar. Porque aqui, mais do que em qualquer outro lugar no mundo, eu aprendo a viver e a ser um ser humano de verdade.
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