Um dedo de prosa
Germana Telles
O melhor presente | 04:37 |
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Desde criança ela quis muito ter o que seria o melhor presente do mundo. Pedia ao pai insistentemente. Fazia as propostas mais difíceis de serem cumpridas _ como ficar sem presente de Natal por toda a vida ou abrir mão do sorvete no fim de semana. Nada adiantava. Aquela casa não era lugar para cachorros.
Tinha raiva da vizinha, que ainda colocava mais lenha na fogueira: “Cachorro só faz sujeira, bagunça tudo, fica doente e ainda foge, deixando todo mundo maluco”.
O que a futriqueira não sabia é que cachorros pulavam alto, brincavam de tudo que se poderia imaginar, não se cansavam de querer agradar, eram amigos como poucos e ainda entendiam os recados silenciosos, se por acaso ela estivesse triste e apenas quisesse ficar quietinha, ali no canto, sem esboçar gesto algum.
Não importava, eles não queriam e pronto. Tantas tentativas em vão a fizeram esquecer o pedido. Um dia, porém, ela cresceu e a aquele sonho ficou possível. Um amigo, sabendo do seu desejo de menina, nem perguntou se caberia ou não cachorro naquela casa. Levou o bichinho, dentro de uma caixa de papelão.
Amor instantâneo, recíproco e arrebatador. “É menina”, disse o amigo. Pretinha, com uma mancha branca minúscula no peito, patas redondinhas e olhar de quem pede: “Me cuida”. Chorava e balançava o rabo, buscava refúgio entre as roupas da nova dona, que quase explodia de tanto querer bem.
Não houve quem não a quisesse. Conquistou todo mundo com aqueles olhos cor de ameixa e o rebolado desajeitado, enquanto tentava se equilibrar sobre as quatro patas. Os pais acabaram se apaixonando também e comprariam qualquer briga para mantê-la em casa. Fiel, acompanhava o pai, todas as noites, quando ele se recolhia, e dormia sobre os chinelos. Ninguém perturbaria o sono. Era a criança, a parceira, ensinando lealdade e afeto aos donos daquela casa.
Um dia a moça precisou ir morar muito longe. Sem despedidas, recomendou cuidados e disse que voltaria logo, para muitas tardes de caminhada à beira-mar e brincadeiras sem hora para acabar. Não pôde cumprir a promessa. Tuca não segurou a distância. Foi deixando de brincar, de atender aos chamados, de comer... e um dia não acordou mais. Morreu de saudade.
A moça pensou na menina, na mãe dizendo não a vida toda, naquele amor imenso que o bichinho lhe fez conhecer e entendeu que não se deve abandonar quem realmente se importa, quem faz a diferença. Nem que seja uma criatura pequena, de quatro patas, andar desajeitado e que só consiga lhe falar com os olhos.
Tinha raiva da vizinha, que ainda colocava mais lenha na fogueira: “Cachorro só faz sujeira, bagunça tudo, fica doente e ainda foge, deixando todo mundo maluco”.
O que a futriqueira não sabia é que cachorros pulavam alto, brincavam de tudo que se poderia imaginar, não se cansavam de querer agradar, eram amigos como poucos e ainda entendiam os recados silenciosos, se por acaso ela estivesse triste e apenas quisesse ficar quietinha, ali no canto, sem esboçar gesto algum.
Não importava, eles não queriam e pronto. Tantas tentativas em vão a fizeram esquecer o pedido. Um dia, porém, ela cresceu e a aquele sonho ficou possível. Um amigo, sabendo do seu desejo de menina, nem perguntou se caberia ou não cachorro naquela casa. Levou o bichinho, dentro de uma caixa de papelão.
Amor instantâneo, recíproco e arrebatador. “É menina”, disse o amigo. Pretinha, com uma mancha branca minúscula no peito, patas redondinhas e olhar de quem pede: “Me cuida”. Chorava e balançava o rabo, buscava refúgio entre as roupas da nova dona, que quase explodia de tanto querer bem.
Não houve quem não a quisesse. Conquistou todo mundo com aqueles olhos cor de ameixa e o rebolado desajeitado, enquanto tentava se equilibrar sobre as quatro patas. Os pais acabaram se apaixonando também e comprariam qualquer briga para mantê-la em casa. Fiel, acompanhava o pai, todas as noites, quando ele se recolhia, e dormia sobre os chinelos. Ninguém perturbaria o sono. Era a criança, a parceira, ensinando lealdade e afeto aos donos daquela casa.
Um dia a moça precisou ir morar muito longe. Sem despedidas, recomendou cuidados e disse que voltaria logo, para muitas tardes de caminhada à beira-mar e brincadeiras sem hora para acabar. Não pôde cumprir a promessa. Tuca não segurou a distância. Foi deixando de brincar, de atender aos chamados, de comer... e um dia não acordou mais. Morreu de saudade.
A moça pensou na menina, na mãe dizendo não a vida toda, naquele amor imenso que o bichinho lhe fez conhecer e entendeu que não se deve abandonar quem realmente se importa, quem faz a diferença. Nem que seja uma criatura pequena, de quatro patas, andar desajeitado e que só consiga lhe falar com os olhos.
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