Um dedo de prosa
Germana Telles
Olho vivo | 01:17 |
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Você sabe que mais cedo ou mais tarde ele virá. Desde muito cedo lhe ensinaram: ele vai chegar. E então, começa a tal espera. Várias vezes você pensa que a hora se fez, o momento mágico. Engano, quase acerto, erros grosseiros. Quedas, depois de escaladas extenuantes, lágrimas, sorrisos desconcertantes, mais lágrimas, centenas de negações, desistências. Finalmente, vem o tempo de amaldiçoar o estranho convidado que se recusa a chegar.
Ele vem, ele vem, sopra a voz lá dentro. Um dia, a profecia se cumpre e a vida faz um sentido danado. A mais simples lembrança vira o bilhete premiado, que abre as portas à certeza: é amor.
Dali por diante tudo é festa. Não há o menor espaço, a menor possibilidade para a dor. Não há tempo ruim ou coisa que se faça maior que aquela paz tremenda que se instala, de mala e cuia, dentro de quem se pega apaixonado.
Chegam, então, os dias de erguer a fortaleza em volta de si, para que nada possa tocar o convidado _ que a essa altura já se fez maior que você, se tornou seu dono, seu senhor, responsável pelos desejos, pelas escolhas, pelas renúncias.
Dois viram um, partilhando confidências, cama, estradas e o banquete que ninguém mais pode provar. É tempo de falar baixinho, gritando nas paredes do outro as palavras mais lindas, guardadas a vida toda para aquele ser de outro mundo, único exemplar em todo o universo capaz de lhe tornar feliz.
É tempo de mãos grudadas, incansáveis no trato com a pele do outro. Tempo de pedrinhas na janela, do mesmo copo, de tomar o leite com nata para fazer o parceiro (que detesta nata no leite) mais contente no café da manhã _ mal sabe ele que você passa mal só de pensar em nata nadando sobre o seu café.
Chegam as horas das descobertas, do pedalinho no lago, das caminhadas na praia, dos jantares à meia-luz, do cinema, da saudade arrasadora quando o outro sai de perto por instantes, para em seguida voltar, maior ainda do que antes em sua vida.
Chega a hora de querer levantar e dançar coladinhos, na sala de estar, sem motivo algum, e sem música alguma tocando no seu "três em um".
Vem o momento em que você respira fundo, olha o outro ali, ao seu lado, e agradece a Deus por ter encontrado aquilo que ninguém mais no mundo achou: aquele amor, o seu, o maior, invencível, para sempre.
Esse é o momento de você cair fora, companheiro. É a hora certa de retomar sua vida, sair à francesa. Porque o amor é traiçoeiro, lhe arranca de você, lhe dá o outro, lhe põe em transe e quando você pensa que o tem, ele mostra quem manda e vai lhe deixando sem que você perceba.
Ele vem, mas ele vai embora sem cerimônia e ainda lhe cobra a conta pela hospedagem. Leva de você a alegria, a certeza, a força, a fome, o sono, todas as vontades, todos os sonhos. Ele nasce, cresce e morre, num súbito ataque do coração (e isso não lhe ensinaram). Faça de conta que acredita nele. Deixe-o pensar que lhe engana. Use e abuse desse enganador. Peça que ele vá à esquina comprar cigarros e suma, antes que ele possa voltar e desfazer de você.
Ele vem, ele vem, sopra a voz lá dentro. Um dia, a profecia se cumpre e a vida faz um sentido danado. A mais simples lembrança vira o bilhete premiado, que abre as portas à certeza: é amor.
Dali por diante tudo é festa. Não há o menor espaço, a menor possibilidade para a dor. Não há tempo ruim ou coisa que se faça maior que aquela paz tremenda que se instala, de mala e cuia, dentro de quem se pega apaixonado.
Chegam, então, os dias de erguer a fortaleza em volta de si, para que nada possa tocar o convidado _ que a essa altura já se fez maior que você, se tornou seu dono, seu senhor, responsável pelos desejos, pelas escolhas, pelas renúncias.
Dois viram um, partilhando confidências, cama, estradas e o banquete que ninguém mais pode provar. É tempo de falar baixinho, gritando nas paredes do outro as palavras mais lindas, guardadas a vida toda para aquele ser de outro mundo, único exemplar em todo o universo capaz de lhe tornar feliz.
É tempo de mãos grudadas, incansáveis no trato com a pele do outro. Tempo de pedrinhas na janela, do mesmo copo, de tomar o leite com nata para fazer o parceiro (que detesta nata no leite) mais contente no café da manhã _ mal sabe ele que você passa mal só de pensar em nata nadando sobre o seu café.
Chegam as horas das descobertas, do pedalinho no lago, das caminhadas na praia, dos jantares à meia-luz, do cinema, da saudade arrasadora quando o outro sai de perto por instantes, para em seguida voltar, maior ainda do que antes em sua vida.
Chega a hora de querer levantar e dançar coladinhos, na sala de estar, sem motivo algum, e sem música alguma tocando no seu "três em um".
Vem o momento em que você respira fundo, olha o outro ali, ao seu lado, e agradece a Deus por ter encontrado aquilo que ninguém mais no mundo achou: aquele amor, o seu, o maior, invencível, para sempre.
Esse é o momento de você cair fora, companheiro. É a hora certa de retomar sua vida, sair à francesa. Porque o amor é traiçoeiro, lhe arranca de você, lhe dá o outro, lhe põe em transe e quando você pensa que o tem, ele mostra quem manda e vai lhe deixando sem que você perceba.
Ele vem, mas ele vai embora sem cerimônia e ainda lhe cobra a conta pela hospedagem. Leva de você a alegria, a certeza, a força, a fome, o sono, todas as vontades, todos os sonhos. Ele nasce, cresce e morre, num súbito ataque do coração (e isso não lhe ensinaram). Faça de conta que acredita nele. Deixe-o pensar que lhe engana. Use e abuse desse enganador. Peça que ele vá à esquina comprar cigarros e suma, antes que ele possa voltar e desfazer de você.
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