Um dedo de prosa
Germana Telles
Feriado Nacional | 22:34 |
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É caso de amor estranho, esse do brasileiro com a gorducha. Jogada de pé em pé, nos gramados, nos campinhos de várzea, tolerando todas as pancadas em nome da paixão dos que lhe chutam, maltratam, mas não saberiam viver sem ela. A coisa merecia ser estudada, tamanha a idolatria, com suor e lágrimas.
Pois o que dizer da peregrinação de uma amiga, bem no dia da eliminação do Brasil diante da Holanda em clínica da cidade (ela me garante que foram seus agouros, sua indignação e seu desejo de vingança que provocaram a partida antecipada dos atletas canarinhos)?
“Marquei com antecedência, criatura, fiz tudo direitinho. Ainda perguntei à moça que me atendeu se não teria problema marcar para a manhã desse bendito jogo, porque eu já não ando bem de saúde e não queria voltar para casa pior do que saí”, contou, indignada.
Ela saiu de casa às 8h30 (a consulta foi marcada para as 9h30), caminhando pelas ruas largas da Cidade Azul, já percebendo a atmosfera verde e amarela tomando conta de tudo. A euforia parecia se solidificar no ar, que ia ficando mais estranho a cada minuto _ com vuvuzelas estridentes soltando gritos fanhos em rápidas passagens de carros, enfeitados de bandeirinhas, com ocupantes praticamente pendurados nas janelas.
“Definitivamente, eu não gosto de futebol. Mas Copa é diferente, concordo, porque é o país sendo representado, são as cores da bandeira, tem a coisa do hino... O que não dá pra engolir é transformar o dia do jogo em feriado ou coisa pior. Tudo para!”, explodiu, visivelmente indignada.
Eu, calada, fui ouvindo o desabafo.
“Cheguei lá às 9h10, vinte minutos antes da consulta. Poucas pessoas ainda sentadas nas cadeiras de espera, pareciam não acreditar no que viam. Funcionários correndo de um lado ao outro, chamando os colegas às caronas. Falaram na cara dura que eu havia chegado tarde e que o expediente era até as dez, naquele dia especial. Mas que mané dia especial? E que dez horas da manhã, minha filha? Ainda nem são nove e meia!”, foi lembrando, furiosa, quase sem ar.
“Uma funcionária com cara de vó quase me bateu, porque eu estava querendo atrasar as pessoas pro jogo”, continuou. “Foi salva por parecer avó. Vencida, dobrei o papel, a esquina e desejei _ do fundo do meu coração _ que o Brasil perdesse a partida e fizesse todo mundo acordar do transe”, despejou, quase mordendo os lábios.
“Ontem guardei minha camisa, para 2014, com um belo sorriso nos lábios. Lembrei da atendente com cara de vó e torci para que ela me atenda na próxima consulta. Vou dar meu melhor bom dia, meu maior sorriso, e jogar o placar da Holanda na cara dela, saboreando cada palavra”.
Como dizia, caso de amor estranho esse. Mas amor que se preza tira o bom senso, deixa todo mundo meio tolo. Ao final da conversa, ela se despediu: “Vou indo. Não perco por nada esse jogo de hoje. Vou secar a Argentina pra ver Maradona voltar mais cedo pra casa”.
Pois o que dizer da peregrinação de uma amiga, bem no dia da eliminação do Brasil diante da Holanda em clínica da cidade (ela me garante que foram seus agouros, sua indignação e seu desejo de vingança que provocaram a partida antecipada dos atletas canarinhos)?
“Marquei com antecedência, criatura, fiz tudo direitinho. Ainda perguntei à moça que me atendeu se não teria problema marcar para a manhã desse bendito jogo, porque eu já não ando bem de saúde e não queria voltar para casa pior do que saí”, contou, indignada.
Ela saiu de casa às 8h30 (a consulta foi marcada para as 9h30), caminhando pelas ruas largas da Cidade Azul, já percebendo a atmosfera verde e amarela tomando conta de tudo. A euforia parecia se solidificar no ar, que ia ficando mais estranho a cada minuto _ com vuvuzelas estridentes soltando gritos fanhos em rápidas passagens de carros, enfeitados de bandeirinhas, com ocupantes praticamente pendurados nas janelas.
“Definitivamente, eu não gosto de futebol. Mas Copa é diferente, concordo, porque é o país sendo representado, são as cores da bandeira, tem a coisa do hino... O que não dá pra engolir é transformar o dia do jogo em feriado ou coisa pior. Tudo para!”, explodiu, visivelmente indignada.
Eu, calada, fui ouvindo o desabafo.
“Cheguei lá às 9h10, vinte minutos antes da consulta. Poucas pessoas ainda sentadas nas cadeiras de espera, pareciam não acreditar no que viam. Funcionários correndo de um lado ao outro, chamando os colegas às caronas. Falaram na cara dura que eu havia chegado tarde e que o expediente era até as dez, naquele dia especial. Mas que mané dia especial? E que dez horas da manhã, minha filha? Ainda nem são nove e meia!”, foi lembrando, furiosa, quase sem ar.
“Uma funcionária com cara de vó quase me bateu, porque eu estava querendo atrasar as pessoas pro jogo”, continuou. “Foi salva por parecer avó. Vencida, dobrei o papel, a esquina e desejei _ do fundo do meu coração _ que o Brasil perdesse a partida e fizesse todo mundo acordar do transe”, despejou, quase mordendo os lábios.
“Ontem guardei minha camisa, para 2014, com um belo sorriso nos lábios. Lembrei da atendente com cara de vó e torci para que ela me atenda na próxima consulta. Vou dar meu melhor bom dia, meu maior sorriso, e jogar o placar da Holanda na cara dela, saboreando cada palavra”.
Como dizia, caso de amor estranho esse. Mas amor que se preza tira o bom senso, deixa todo mundo meio tolo. Ao final da conversa, ela se despediu: “Vou indo. Não perco por nada esse jogo de hoje. Vou secar a Argentina pra ver Maradona voltar mais cedo pra casa”.
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2 comentários:
Olá Gê, adorei ler!
O trecho...
"Mas amor que se presa tira o bom senso, deixa todo mundo meio tolo."
Mais pura verdade... kkkk!
Parabéns, to seguindo seu blog agora!
Bjos...
Oi De!!! Maravilha ter uma leitora como vc. Pois então...Não é verdade, essa coisa de amor? (risos)
Beijão pra vc... E sinta-se à vontade!
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